Ao passear pelas ruas do Setor de Chácaras Santa Luzia, na Estrutural, o diretor Webson Dias confessa: “Eu fiz o filme para mim, porque eu queria entender o processo histórico deste lugar”. Aos 38 anos, ele exibirá no 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro o documentário Estrutural, que aborda, sob ângulos diversos, conflitos intensos ocorridos na região administrativa. O Setor de Chácaras Santa Luzia está no documentário de Webson Dias (foto), que será exibido em 24 de setembro.
Fruto de um trabalho de pesquisa iniciado em 2003, o longa-metragem estreia no Cine Brasília (106/107 Sul) em 24 de setembro, às 14 horas, na Mostra Brasília. Em dois dias de programação gratuita, a 21ª edição do evento reúne 12 títulos originalmente brasilienses — seis longas e seis curtas-metragens. As obras concorrem a R$ 200 mil em prêmios e ao 21º Troféu Câmara Legislativa.
“É uma mistura de interesses, manipulação, descasos e do nascimento de uma cidade”, destaca o brasiliense, que viveu no local de 1996 a 2000. Em 89 minutos de duração, o público verá fotos, vídeos, gravações atuais e material de arquivo que mostram a visão de moradores, políticos e lideranças comunitárias sobre os conflitos na região desde a década de 1960, quando a invasão começou a tomar forma. “A chegada dos moradores, que vieram para trabalhar no lixão [atual aterro controlado do Jóquei], e os embates políticos pela regularização são pontos marcantes nessa história”, ressalta.
Feito de forma independente, o filme contou com a equipe fixa de oito pessoas e com a ajuda de moradores, que ofereceram materiais de arquivo para o diretor. Graduado em publicidade desde 2005 e estudante de cinema, Dias já havia abordado a região administrativa em suas produções. Em 2012, ele concorreu na Mostra Brasília com o curta-metragem Cata(dores). “A temática é intrigante devido à quantidade de histórias que encontramos por aqui; é um lugar peculiar do DF.” O diretor reforça que o documentário apresenta pontos destoantes de forma equilibrada. “Procurei ouvir todos os envolvidos que se dispuseram a falar; o posicionamento cabe ao público, caso seja necessário”, adianta.
Em 25 de setembro, outra face da Estrutural será apresentada ao público do Cine Brasília. Tania Quaresma levará à telona Catadores de História, que mostra o cotidiano de catadores de materiais recicláveis do Brasil, inclusive aqueles que trabalham na Estrutural. A ideia nasceu de uma inquietação da diretora sobre o destino que o País pretende dar às 240 mil toneladas de lixo produzidas diariamente.
A produção foi filmada de 2013 a 2016 e contou com R$ 349.935,94 em recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Todo o processo de filmagem e montagem foi acompanhado diretamente pelos catadores, segundo Tania. “Estamos muito felizes porque eles gostaram do resultado. Esperamos que o filme seja uma ferramenta de reconhecimento ao importante trabalho que eles desenvolvem.”
“Temos que refletir sobre o lixo. Na vida, duas coisas são certas: que um dia morreremos e que produziremos resíduos até depois da morte, com nossos restos mortais.” Tania Quaresma, diretora de Catadores de História
Para a diretora, o documentário é uma forma de refletir sobre o lixo que geramos. “Na vida, duas coisas são certas: que um dia morreremos e que produziremos resíduos até depois da morte, com nossos restos mortais.”
No 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o curta-metragem Setor Complementar, do diretor Tiago Rocha, abriu a 20ª edição da Mostra Brasília. O cineasta também participa do documentário Estrutural como montador e diretor de produção. O filme exibido no Cine Brasília em 2015 foi acompanhado por crianças moradoras da região administrativa, que também atuaram na película. Rocha explorou a reflexão sobre o transporte público e a indústria automobilística brasileira com base em uma das peculiaridades da população da Estrutural, que costuma usar bicicletas como meio de transporte.
“Temos que refletir sobre o lixo. Na vida, duas coisas são certas: que um dia morreremos e que produziremos resíduos até depois da morte, com nossos restos mortais.” Tania Quaresma, diretora de Catadores de História
Abre a mostra no dia 24, às 11 horas, Das raízes às pontas, de Flora Egécia, seguido por A repartição do tempo, de Santiago Dellape. Às 14 horas, serão exibidos Juraçu, do Coletivo Broa de Milho, e Estrutural, de Webson Dias. Às 16h30, o público poderá assistir ao Vesti la giubba, de Johil Carvalho, seguido por Cícero Dias – o compadre de Picasso, de Vladimir Carvalho.
O luto, de João Gabriel Caffarelli e Saulo Santos, será o primeiro filme do dia 25, às 11 horas, seguido por #Era dos gigantes, de Maurício Costa. Às 14 horas, A Festa dos encantados, de Masaroni Ohashy, e Catadores de história, de Tania Quaresma, serão apresentados no Cine Brasília. Encerram a mostra, às 16h30, as películas Rosinha, de Gui Campos, e Cora Coralina – todas as vidas, de Renato Barbieri.
fotos: Tony Winston
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